Colégio-Escola Arcoverde

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segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Tertúlia Xamânica I

 Prova de "Loucura Controlada"


O que faremos agora que Carlos já partiu

e Don Juan não se encontra mais entre nós?

Quem somos nós, 

apaixonados seguidores do Caminho do Conhecimento, 

órfãos e desgarrados?

Lá fora a Águia gritou seu assobio fino, grave e sombrio

o que isso pode querer nos dizer?

Será ela o tão esperado Guia (benfeitor)

ou o tão detestado predador? 

Será que assim como a Morte 

Ela nos espreita e nos aguarda?

Carlos partiu.

Don Juan já partiu há muito mais tempo...

Serão eles agora fantasmas 

em Ixtlan?

Ou serão só memórias 

amorosamente guardadas na memória?

Lá fora Águia começou a piar. 

Rindo da minha solidão?

Se ela ri de mim estarei eu no caminho errado?

É muito triste ser assim tão alegre

diante de tais questões. 

Será que ela não tem problemas existenciais? 

Será que ela só tem fome de consciência?

Será a minha, nesse momento, 

petisco ou saboroso almoço?

A Águia fez-me lembrar de algo.

***

Lembrei-me de Genaro! 

O mais lúcido de todos!

Só a visão de fantasmas o entristecia

... e a estupidez humana.

Essa Águia que há pouco escutei 

e que me pareceu estar rindo 

de mim mesma

bem poderia ser Genaro... 

... rolando de rir de toda essa nostalgia 

...da minha estupidez e solidão.

***

Mas isso de homens que seguem vivendo 

em outras formas de vida

é coisa do budismo tibetano 

e não do xamanismo tolteca.

Para nós só há um caminho: 

O Caminho do Conhecimento 

na busca da Liberdade Total

Para nós só há um caminho: 

seguir vivendo a nossa busca

divididxs entre a Morte, a Águia e os ruídos do mundo;

***

impecável e impiedosamente tangidos 

pela ânsia da vida por si mesma 

e pela nossa tão humana estupidez e cegueira:

Não somos vida que se acaba e morre 

e não somos vida que continua

Nunca chegamos a nos conhecer 

e jamais poderemos nos reconhecer

Damos nomes ao visível desconhecido 

e ao  desconhecido invisível 

e tratamos como conhecido 

o que nos espreita, o que de nós se alimenta

e somos impecáveis 

na forma da não-piedade.

Sofremos as mesmas dores e angústias que sofreram 

os que hoje são nossos mestres

e não aprendemos nada do que eles nos ensinaram 

a não ser o que eles mesmos aprenderam.

Nosso caminho bem poderia chamar-se Caminho dos Sinônimos.

***

O verdadeiro Caminho do Conhecimento 

só Genaro o percorreu

e Zorba, O Grego

Zaratustra e Ramakrishna também.

***

Me parece que às vezes a Busca pela Liberdade Total 

é só uma falácia do conhecimento

um estratagema para não encarar o fato 

de que essa vida, 

intensa e mal vivida,  

se acaba um dia

como tudo baseado em oxigênio e carbono 

***

e se tudo se acaba um dia 

só Genaro 

e Zorba, 

e Zaratustra, 

e Ramakrishna 

puderam partilhar a vida 

com a própria vida

e não deixaram mapas ... 

e não pudemos ainda encontrar sinônimos...

***

Quando, momentos antes, terminei esse texto, percebi o silêncio ao redor de mim. 
Não havia mais os ruídos "do mundo do homem". 
Percebi o silêncio, novamente...

Afetam-me todos os ruídos humanos, todo o arsenal de sons feitos por máquinas terrestres e aéreas.
Enquanto voltei ao topo do texto, para a edição antes da publicação, só haviam os ruídos da natureza: os pássaros, o vento, toda a conversa da natureza consigo mesma e entendi que é a isso que chamo de "parar o mundo".
E percebi que, nesse instante, "o mundo parou" significa que os barulhos que envolvem toda a vida do homem são considerados "ruídos", não estão na ordem natural da nossa definição de mundo, são aquela parte que perturba, a que se refere à "forma humana".
Não nos inserimos no nosso próprio mundo. Nossos carros, aviões, máquinas, ruas, calçadas e avenidas, nossas linhas de transmissão e toda a parafernália que nos proporciona conforto e bem estar são nossa criação assim como também o são o paisagismo, o lugar que as coisas ocupam e tudo o que criamos para nos ajudar a cuidar de tudo o que existe e tudo criação das nossas inteligências (mental, emocional, racional, intrapessoal etc etc). 
Ainda assim a criação não nos contém... e nós a contemos em nós?

Eis aqui a atração do Caminho do Guerreiro: 
nos encontrarmos enquanto pertencentes, enquanto viventes, enquanto existentes num lugar que já existia antes de chegarmos, num globo azul flutuante que teve início de alguma maneira, em algum tempo e que, por que tudo que conhecemos uma hora ou outra finda, acaba, termina, se extingue, também por esse processo passaremos como já vimos outros passarem e, uma hora ou outra algo acontecerá e estaremos diante do incognoscível e não mais caminharemos por esse tão conhecido chão, estaremos no "outro mundo" e como pessoas impecáveis na "loucura controlada" ...

***

"Aqui é o Todo. Lá é o Todo. 
Dividindo o Todo o Todo ainda resta. 
Separando o Todo, do Todo nada resta. 
Mistérios são mistérios do Todo. 
E a Ele nada acrescentam. 
Tirando do Todo todos os mistérios o que resta é: 
O Todo e os mistérios."

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